Amigos inesperados
Amigos inesperados
Já se perguntou quantos amigos podemos encontrar pelo caminho de forma inesperada? Isso faz parte da arte da vida.
Sempre gostei de arte! A arte e suas diversas expressões e formas para mim fazem do mundo um lugar melhor, mais bonito de se ver e viver. Dentre as diversas manifestações artísticas, aquelas que são apresentadas na rua, no improviso, vencendo as adversidades impostas pelo tempo, pelo barulho, e principalmente do olhar de julgamento daqueles que passam carregados de si mesmo.
Em quase todas cidades, constantemente somos surpreendidos por artistas que jogam diversos objetos para o ar, transformando um sinal chato que nos faz parar por mais de 60 segundos em um verdadeiro palco. Artistas esses que na maioria das vezes não falham em suas apresentações, mas, se falharem: Respiram, e recomeçam o seu espetáculo com a intenção de fazer melhor do que antes.
Desta vez, o meu carro foi o primeiro da fila naquela noite fria (vale registrar que o frio veio de intruso, estamos em períodos de calor intenso), e ao perceber que o sinal estava fechando, eis que se levanta do banquinho posto ao lado semáforo, como se saísse de um camarim nos bastidores, um jovem acendendo as tochas pronto para encantar a todos, e quem sabe arrumar uns trocados para fortalecer a sua noite.
Antes de iniciar, ele me olhou fixamente, fez uma reverência e colocou a mão no coração. Achei até que era algo da apresentação, mas desisti dessa ideia quando ele repetiu os gestos, apagou as tochas e veio em minha direção.
Ao se aproximar, ele apontou para um adesivo que tenho no vidro do carro e disse de forma alegre:
-- Tem tempo que não passa por aqui em Paizão - Fiquei me questionando se ele realmente se lembra em meio a tantos veículos das pessoas que passam ali. E continuou:
-- Que saudade eu tenho desse lugar - apontava o dedo para o adesivo e logo em seguida para o coração. Nesse momento consegui compreender melhor do que se tratava, mesmo sendo dois estranhos, com caminhos completamente diferentes, tínhamos algo bem em comum, e de alguma forma estávamos ali conectados por isso. Perguntei como ele estava naquele momento, e me surpreendi com a resposta:
-- Eu estou bem! Fiz um curso de palhaço, com diploma e tudo, para poder rir das coisas da vida, e principalmente rir das pessoas. Eu não quero muito não, só o suficiente para poder andar mais. Fiquei tentando refletir com tanta informação, que parecia uma forma de desabafo com uma mistura de: eu to aqui. Ele continuou:
-- Te ver me fez sentir acolhido e a vontade - tornou-se a apontar para o adesivo e continuou
-- Esse lugar fez meu coração se aquecer novamente.
Apertou minha mão e segurou, mesmo vendo que o sinal já estava aberto, acredito que o gesto de apertar a mão de alguém não deve ser uma rotina em sua jornada. Não fiz questão de soltar, deixei. Ele diz antes de sair:
-- Que bom te ver Paizão.